domingo, 27 de junho de 2010

Quando coroinha


Quando coroinha badalou o sino para a frente e para trás, cintilando o brilho prata do objeto no reflexo da luz rasteira da manhã. Tentava desvendar fenômenos e desejos da fé, que só lhe debruçou à janela da alma tempos depois. Desmanchou um noivado e a zaga do time de futebol por causa disso. A centelha divina houvera lhe proposto um isolamento, lá pros lados do Morro do Quebra Cabaço, que era como a gente do lugar denominava uma montanhazinha erma, a poucos quilômetros dali. Um pouco por exibicionismo, outro por espírito de imitação, tornou-se eremita. Senhor de seu Sol, sua Lua e do radinho de pilha que o acompanhava no isolamento, com a função de conferir-lhe a mínima noção do mundo lá de fora. Comeu frutas e gafanhotos, bebeu mel e chuvas, plantou mandioca, porque mais não sabia. Paramentado de profeta, sob os clarins de imaginárias trombetas, desceu à vila meses depois, para pedir doações que lhes garantisse algo essencial: um bocado de sal e as pilhas. Foi quando avistou no jornal da banca a foto da debutante Estela, linda, estrela. Retornou à casa do pai, e anunciou a sua redenção: “não dá pra ser profeta sério com tanta mídia!”.

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