terça-feira, 8 de junho de 2010

O bar parou

O bar parou! Trazendo nos ombros um casal de araras vermelhas, dr. Hércules, contumaz em tudo o que havia disponível naquele corrupto estabelecimento, tinha um brilho esquizóide no olhar. O semblante lembrava, sem sacrifício, a cara de um humorista idiota de televisão. Com sacrifício, a de uma gôndola com secos e molhados, tamanha era a assimetria entre cabelos, boca, nariz e barba. A babilônica figura segurou com cada mão um bico de arara e pediu três ovos, entre os muitos multicoloridos e cozidos à anilina que mofavam entre as sardinhas e as moelas. Rubinho Lisboa, de chofre, perguntou se o freguês havia de querer também o sal, com a natural obviedade galega de dono de botequim. O advogado disse que não. Ou melhor, só para o seu ovo, porque as araras os apreciavam mais sem qualquer alteração no sabor. Três fregueses pararam os copos de cachaça no ar. O que chegava, ficou na porta. Com paciência paterna, dr. Hércules serviu primeiro a ave da direita, para o desespero da outra, abastecida a seguir. Tomou também duas doses, pagou e saiu, silente. Rubinho confessou a todos que não contaria nada em casa à Maria. “Ela tem mania de dizer que ando bebendo”.

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