quarta-feira, 2 de junho de 2010

Meus senhores

“Meus senhores, minhas senhoras, aqui está a mulher que percorreu 350 quilômetros a pé para dizer ao ex-marido que a cadela Belinha, da raça fox paulistinha, dera cria a quatro rebentos”. À direita, a sujeita mirava a platéia, lábios puxados por um sorrisinho magnificência e seguidos movimentos de sins com cabeça silenciosa, num distinto gesto de “sou eu mesma”. A rapaz do violão ponteou as notas do Parabéns pra você, para um público que cantou, como se estivesse embaixo de um gigante chuveiro, esfregando o sabonete Lux nas axilas ensopadas. Finda a farsa, Antonina, para o desespero dos colegas que estavam em torno, ergueu o braço direito. Sim, ela é do tipo que pergunta, quando todos querem ver logo o final do evento. Esticou o pescoço para ampliar o ângulo de visão da galera, e sapecou insólita: “os cachorrinhos estão vivos?”. A andarilha fez que sim, dessa vez com a cabeça enfática, mas como não foi questionada, jamais explicou o motivo daquela exótica romaria.

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