segunda-feira, 21 de junho de 2010

O garçom jogava

O garçom jogava gelo nos mictórios. Com mesuras todas, explicava a Roberval que o mal era o calor da urina; provocava o cheiro. Roberval acreditava que não, não disse, usou. Na hora abissal, ao aroma nauseabundo, tomou a decisão transcendental de derreter cada pedra com as mãos inquietas dirigindo os jatos. Pouca cerveja, concluiu com boca seca. Voltou à mesa preenchida de cascos vazios, só lembrando. Um palpitar lhe aumentava a competitividade contra o garçom e o freezer. Um levava, outro fazia inimigos. Roberval nunca vencera em nada. Seu fígado já dava o jogo por perdido. Então pensou na trapaça! A cerveja não haveria de passar por todo ele: boca, saliva, esôfago, estômago, dar uma volta no fígado, intestino, rins e bexiga. Seria lançada diretamente sobre as pedras de gelo. Disfarçou com a garrafa, e entrou no banheiro, certo da vitória. Mas as pedras não derretiam. A cerveja era gelada. Decidiu aquecê-la, como pode. Para seu mal, o amigo Marcos entrou no banheiro. Roberval jamais conseguiu eliminar o apelido de vasilhame.

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