sexta-feira, 4 de junho de 2010

Cortejou-a e já

Cortejou-a e já a chamou, compulsivo: - Quer ler Camões comigo? Desatinada e sem dor, Gracieti pensou no poema de Rilke (“Oh, este prazer sempre novo de emergir do barro!”), antes de dizer seu “sim” ao velho literato, naquela biblioteca vetusta da universidade antiga. Ardeu sem se ver envolta, servindo a quem a venceu sua barreira já quase obsessiva às coisas do pós-modernismo. Consentida à prisão pela vontade, ela contentou-se descontente às letras do cortejador jurássico e viu verdes os campos de um amor emergente. Mas o velho era galinha. Pelo vão do olho cego, camonianamente declamava o clássico português a todas.
Tendo com quem a matava a lealdade, Gracieti decidiu inverter a sedução. Plugou no computador do garboso galã o pen-drive da Björk e pôs-se a declamar Leminsk, enquanto improvisava passos de uma exótica dança livre.

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