segunda-feira, 14 de junho de 2010

Farto, bateu asas

Farto, bateu asas. Não era abominável ou malcriado; “sabe o que quer”, observaria a mãe, ao contrário dos outros. Mas a casa onde fora comer era de amigos. Ele saiu da mesa para virar assunto, depois de um agonizante combate entre o peixe ao forno e a carne assada. Interrompeu sem cerimônia o solene jantar e lançou-se no sofá vermelho. Pior, pediu um palito de dentes ao mordomo, bem no centro do obscuro olhar da anfitriã. “Que gracinha, só falta arrotar!”, ironizou o pai da noiva. A moça, coitada, sentiu-se um feto em plena traição ignóbil. Com graça e elegância pediu licença a todos, para juntar-se ao seu. Seu noivo. Seu sem-noção. Seu estúpido e indigesto convidado de honra, cuja mercê do convite tivera o propósito ingênuo e formal de pedir-lhe a mão. No pé do ouvido do parceiro ela ainda murmurou dissimulada: “volte pra mesa, amorzinho, estão todos te esperando”. O rapaz levantou rápido, deu dois tapas na barriga com ambas as mãos, e dirigiu rápido ao corredor central, sob a vista de todos: “aí, moçada, vou ca.., digo, vou ali no banheiro e já volto. Me esperem pro doção de leite, heim?”.

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