quarta-feira, 16 de junho de 2010

Imaginei que a luz

Imaginei que a luz da santa fosse de um carrinho de pipoca. Vista à distância, mas tão próxima de casa, ela provavelmente nem faz milagre. Passou a habitar uma pequena capela feita de alvenaria por algum devoto. À noite tem lá sua lâmpada acesa sem cessar: fraca, amarelada. Verão aos besourinhos marrons e pingos de chuva, mas protegida por portas de vidro. Daí a confusão turva com a imagem de um pipoqueiro. Fico imaginando se o meu mal não é muita fome e pouca fé. Acho que não! Foi confusão leviana, desatenta. Desde muito cedo havia manhãs de domingo e missa. Tarde, quermesse com pipocas na mesma igreja. Essas associações, com o tempo, emaranham-se. Acho que trazem a memória remota ao presente do indicativo. Minha avó, da cama de onde não sai mais, vê operários e pianistas inexistentes nos limites quadrados do seu quarto. Trabalho e arte. Deve ser uma espécie de milagre, como aquele que transforma o milho em pipoca.

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