domingo, 6 de junho de 2010

Dado a mendigar

Dado a mendigar bravuras, impunha o testemunho dos seus para o endosso dos feitos que contava. Ele próprio era o protagonista , e redundava uma ou outra participação nas histórias, quase sempre para ampliá-las em intrepidez. As façanhas correriam bem como os anos lentos daquela vila rural, não fosse por Fátima Márcia, a prima da capital, cuja paciência recusava-se a acompanhar aquelas arengas fantasiosas de Paulo, o Chuquenorres (que era como gostava de ser chamado). Dada às baladas dos barzinhos, entre cervejas e croquetes, a moça não tinha o hábito de beber cachaça, assim, só com conversa para ninar bezerros. Ouviu a da onça, a do salvamento das criancinhas, da doma do corcel selvagem, da fuga do valentão, mas, quando o intróito do lobisomem começou a se desenhar, achou que o bardo já beirava a sordidez. Jogou a franja citadina para trás, e sapecou sem piedade; “aí, Chuque, ‘cê posa de maluco beleza, mas a comadre tem reclamado do comparecimento”. O primo tostado de Sol azulou. Sem perder o ímpeto, porém, convocou a massa: “contem pra prima sobre o aumento da população da vila aqui do lado, que sem o degas aqui já teria desaparecido”...

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