domingo, 13 de junho de 2010

Nem trocaram uma

Nem trocaram uma única palavra. Arrisquei e ganhei. Por suposto Toninho e Laura se silenciariam. Ele, com aquela voz esgarçada que tinha, estava de fato magoado. Ela, dos lábios de fígado, nem aí. Debaixo da garoa o silêncio é uma graça divina. Sob o aguaceiro, uma imposição.
Depois, pão molhado já não desce bem. Ela, antes, insistiu. Laura era uma obsessiva gelada de reservas. Toninho, um insolente turrão. Mas, ali não. Não disse nada. Era por razão de gosto mesmo. Ele odiava aquilo. Perseverante, a Laura. Fez que fez e percorreu lépida o espaço entre a felicidade e a padaria. Pediu logo quatrocentos gramas, cortadas bem fininhas. Quase transparente, que por um triz não se pudesse ver do outro lado, Laura disse. Pagou pelo prazer, alheia às considerações do namorado. Apostei com Alfredo que, se ela insistisse, aquele gesto sem importância poderia significar o fim. Não deu outra. Não joguei com a sorte. Na verdade, eu sabia, desde pequeno Toninho odeia mortadela.

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