terça-feira, 29 de junho de 2010

Estamos envoltos

Estamos envoltos em mato denso. Rubião foi velado no remanso de córrego curto. Sabe-se lá se de lá aqui já virou comida de jacaré. Ele era um líder nato, e eu sempre achei que os líderes autênticos morrem primeiro. Mas foi pura sorte... a nossa. Ele nem viu quando a fumaça levantou da asa esquerda. Na batida não existia mais. Alves e eu, sim, nos tocamos as mãos, como quem cumprimenta a vida e o burburinho de aves. Alves conseguiu desentortar a porta e deixar a cara num raio de sol tênue, que vazava entre as folhagens. Eu destorci o tornozelo torcido pra sair. Aí, verde escuro. Rubião saberia utilizar a bússola do painel. Nem sei onde fica o painel, e Alves não vê. Vista turva, diz com a cara mais rasgada desse mundo. Devem vir nos procurar, porque procuram aviões perdidos na mata. Mas já escureceu e amanheceu algumas vezes, perdi a conta. A ponto de esconder de Alves esse chiclete de hortelã que guardo no bolso...

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