sábado, 19 de junho de 2010

Não havia maçã

Não havia maçã que desse. Descia sacos e pacotes da prateleira horti-fruti para alimentar o menino amargo. Nada de nada, insistia o peste, a não ser maçãs. Psicólogo pediu respeito à vontade. Médico disse que morreria. Pai-de-santo tentou pipoca. Nutricionista mandou bater... com leite, ao contrário do avô sensato, que até emprestou uma varinha de marmelo. Era maçã até o cansaço. Maçã quae sera tamen. Maçã dos quintos dos infernos. Sugerida a fome, aceito o castigo. Fora a vizinha Ofélia quem propôs a dieta. Dois dias, moleque azul. Três, já não se levantava da cama. Terminaria se suicidando, porque sim, petulantemente, por que não? No quarto, a mãe condescendeu e foi à cozinha. Maçãs, muitas delas. Levou-as picadas e sem as cascas, no gosto dele. Fez que não, com olhar acerado e arrogante. Ranhetou. Balbuciou algo como arroz, como feijão, como bife, como batatas fritas. Fome é sempre eficaz em genocídios!

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