quinta-feira, 24 de junho de 2010

A aparência

A aparência, de duas uma: ou convenceria o velho fazendeiro a adotá-la em seu afeto, como fazia com terras, filhos e vacas, nessa ordem; ou a expugná-la como estranha interesseira e, portanto, uma ameaça a quem, como ele, teme até o sinal da cruz, porque divide em três os beneficiários do nome: pai, filho e espírito-santo.
Carla Mescalina foi vestida com preto básico, emprestadas pérolas, pintura à altura e um sorriso santo, que ninguém julgaria falso. Ninguém exceto ele, o velho, pai do noivo submisso que ela laçara numa festa country. Como quem rodeia a rês antes de mandar o valor num lance, o esperto latifundiário mediu Mesca de cima para baixo, de frente e por trás, da cabeça aos pés. “Bonito o seu cabelo, moça”, falou sonso. Para completar antes que ela pudesse ser-lhe grata, foi justificando a negativa: “...é que aqui a gente não cruza com loiras. Ciência genética, dona. Última palavra no nosso negócio!”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário