terça-feira, 22 de junho de 2010

E aí começou

E aí começou a solidão e a noite. Em coisas sem importância, como biscoitos untados na manteiga sem sal, Bete e Tiago já falavam pausadamente o quase nada. Com a visão de bem querer, que então não havia, olhavam o mundo passando sóbrio e indiferente. Ele nem perguntava aonde ela ia. Ela achava que fazia bem ao adotar a timidez ou zombaria. Trauteava antigas canções no lugar do silêncio. E aí chegou o estorvo e a tia do interior. Inevitável que a velha descortinasse o clima. Maço de cigarros pela metade, batom, pó de arroz, rímel e lenços de papel entulhavam a convivência. Conversas fora de tom, horas incertas para tudo e pior: um pintcher ardido que nunca desacompanhava a anciã vaidosa e alcoólatra. Extasiou a casa, mesmo aquela, que já não existia. Couve-de-bruxelas com limão, diária e ritualmente, foi a conta. Bete e Tiago voltaram ao diálogo franco, abriram verdades, infringiram o tédio e optaram pelo pé na bunda da tia mala. Vivem uma lua-de-mel sem volta e compassada!

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