sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Desvairado e mal

Desvairado e mal pago, Demétrio quis livrar-se, enfim, do inconveniente jugo de Pedro Ernesto, dono da indústria de móveis onde trabalhava. A oportunidade não poderia ser melhor. O patrão sempre lhe fora tosco: nas ações e impropérios. Demétrio dependia do emprego. Chegava a engolir sapos às dúzias para mantê-lo, até aquela ligação... uma loteria.
Com enlevo e arrogância dirigiu-se à pomposa sala do empresário. A tentativa da secretária guardiã de solicitar-lhe que marcasse um horário para falar com “o Senhor Pedro Ernesto” foi francamente inútil. Demétrio avançou sala adentro, sem sequer bater à porta: - Olha aqui, seu Pedro de bosta, de hoje em diante eu não preciso mais dessa sua mesquinharia e de ouvir suas merdas ou destemperos. Aliás, quem vai fazer a merda, hoje, sou eu. Demétrio arriou as calças e defecou no sofá de couro da sala do patrão, pisou na obra e saiu pulando sobre as cadeiras, até desenvolver um sapateado flamenco sobre a mesa do homem.
Já deixava a empresa, cantarolando, quando Zezão, seu colega de trabalho, confessou a brincadeira: - Olha, quando eu te liguei agorinha e disse que havíamos ganhado aquela cartela da mega-sena estava mentindo, viu? Não leve a mal.

Um comentário:

  1. querido Alaor!
    pobre é assim, quando pensa que está por cima, anda pisando na merda. Ô alegriazinha desgraçada!

    (aproveitando, o "emeesseêne" foi demais)

    ah, e vou levar a sério o papo de rabiscar um romance, hein. (é bom que eu posso dividir a culpa com você)

    grande abraço, (mamãe tem adorado suas crônicas)
    inté!

    ps. Aguardemos CLPT para sapatear.

    ResponderExcluir