sábado, 27 de fevereiro de 2010

Dei conta

Dei conta da besteira quando o Hugozinho chorou. Eu estava colocando o negócio para gravar a novela das oito, que naquele dia não poderia assistir, porque tinha os cabelos para pintar. A festa seria às dez.
No começo achei que o Hugo Augusto, meu marido, estava com o filho no quarto. Depois vi que falava ao telefone, empolgado mas bravo, sei lá com quem. O tempo voa nessas horas em que a gente tem pressa. Tudo eu, pensei. E o tal barulho não parava. Parecia um chiado, assim, uma chuva, uma seqüência de pequenos estampidos que só aumentava com os minutos. Ah! Alguém tá de sacanagem comigo, só pra me atrasar. Nem me toquei que não havia mais ninguém em casa: só o Hugo, o Hugozinho e eu. E o porquê daquele som talvez fosse galho raspando, um cedê riscado, uma distração desses aparelhos que zoem e zuns. Até que veio o cheiro! Aspirei surpresa, porque não havia nada no fogo. Fogo? Procurei cafungar melhor, puxei ar, puxei ar e ai, deveria ser fogo mesmo. Quando vi a fumaça tomava a sala. Gritei pro Hugo, joguei os cabelos e ouvi aquele choro agudo. Mal dava pra subir as escadas do sobrado no meio das labaredas. Urrei de raiva e agonia, o chorinho foi sumindo, até que parou. Veio aquele cheiro, vieram os bombeiros, veio o remorso, doutor. Só sei isso.

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