quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Inibida pelo sucesso

Inibida pelo sucesso que ambicionava, como uma estudante modelar na hora no exame, era na valsa que ela levava a coisa. Jamais lera um único livro para corrigir sua vida conjugal, dirigia o fusca sem cinto, fumava na sala de visitas, esturricava-se ao Sol do meio-dia com a caipirinha de vodca à mão, chamava o coxo de coxo. Nada lhe era proibido por lei ou por orientação médica. Uma flor da autenticidade, sobre a qual caíam sombras e chuvas. Sua intuição acertava na mosca, mesmo quando mirava ao léu.
Indecisa quanto ao que escolher: sarro, seriedade, amor ou desprezo, ouviu o porteiro repassar-lhe as ordens do síndico para que não andasse nua pelo apartamento, porque havia outras torres ao lado de seu prédio. Com uma leveza artificialmente doce, disse um “não fode” tão convincente, que o pobre se reportou ao patrão tudo aquilo que entendera da resposta: “ela me mandou comunicar-lhe que, no momento oportuno, não desrespeitará mais nenhuma regra do regimento interno”.

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