domingo, 7 de fevereiro de 2010

Descrença é o que há

Descrença é o que há de melhor para a crença, Divino disse. No “uai, por que compadre?”, com que Hermógenes quis explicação, foi logo palavreando tim-tim por tim-tim: “Veja, quando o descrente teima com você, coisas contrárias à sua crença, é que ela cresce em você, no fervor”. Hermógenes fez sinal de concórdia com a cabeça, e os dois continuaram a rezar, na capela sem portas do bairro do Mato Dentro.
Teria sido acaso se não fosse zombaria, Bastião passar ali, bem naquela hora, e lá de fora, debaixo do chapéu e sobre o cavalo, gritar para os dois compadres ajoelhados ao pé do altar: “Ê, vocês dois, a maneira mais fácil de Deus entrar numa pessoa é imitando o diabo, que já estava lá, dentro dela, antes Dele”. Foi a conta. Hermógenes piscou para o Divino, os dois puxaram juntos dos revólveres que guardavam entre as barrigas e os cintos. Mais de oito balas furaram todo o tamanho de Bastião, agora pequeno, no chão batido.
- Bom, a gente vem aqui amanhã e recomeça a promessa, meu compadre.
- Feito! Concordou Divino. Ambos saíram lentos, depois do pelo sinal.

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