segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Ouviam-se passinhos

Ouviam-se passinhos ágeis no súbito silêncio. Entrar naquele quintal, à noite, causava uma impressão similar a de quem fica pronto antes da hora, ansioso pelo que virá. Sabiam, sim, da existência do cão, mas não se furta um destino sem correr riscos. Obtivessem sucesso, e o diário que sabiam existir no quartinho dos fundos, onde Gustavo Douglas sempre dormia depois dos crimes, haveria de revelar-lhes todo o mistério da morte da Aline.
Dona Glória assistia a cena da novela com o assombro das virgens ao primeiro sexo. Cutucava o ressonante Esperidião, que não ligava mais para as coisas desse mundo, mesmo que fictícias.
O dobermann endiabrado recebeu um close nos caninos superiores, a música subiu, o casal de mocinhos gritou, Dona Glória finou-se.Naquela noite, Esperidião dormiu no sofá. Acordou sentindo algo diferente na decoração da sala. Sim, sua Glória. Ela estava ali, como nunca esteve.

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