sábado, 13 de fevereiro de 2010

Aquele zoológico

Aquele zoológico tinha a irrepreensibilidade do doutor Leon Adamâncio, o severo diretor, que tratava os bichos, zeladores e servidores com a autoridade de um monarca. Saíam dele as ordens expressas que proibiam as crianças de correrem pelas alamedas, os velhinhos de tossirem nas proximidades da jaula dos sagüis ou todos de soltarem gazes nas áreas de exposição. “Não atirem macacos aos leões”, “Não joguem crianças aos tigres”, “Cuspa no bolso”, também se podia ler nas placas dali. Como o ser humano se acostuma rápido com o insólito, o despotismo de Leon Adamâncio teria passado anos desapercebido, não fosse sua disposição de mandar enjaular uma freira que, na companhia do vigário da paróquia, em visita ao zoológico, fez o sinal da cruz ao presenciar a cena de acasalamento das onças pintadas. Leon rugiu de ira, pois aquele movimento diminuto da mão da religiosa poderia distrair o felino macho, e induzi-lo a esquecer-se da função que praticava. A Igreja, é lógico, criou um problema de Estado, e Leon Adamâncio foi exonerado de sua soberania, a bem do serviço público.

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