quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Na encenação

Na encenação da paixão, Cristiano Clemente, que interpretava o papel de Jesus, anunciou sua renúncia no último ato, quando já se encontrava fixado à cruz. Recusou-se a ser o filho e muito menos o Deus. Pôs-se a dizer impropérios aos agressores, maledicências à platéia atônita e aos desengonçados atores, vestidos caoticamente de judeus e cristãos. Desceu da cruz, no parque público, para de dedo em riste indagar os espectadores, um a um, sobre o interesse oculto que tinham em assistir à desgraça alheia. Os dois PMs que faziam a segurança não ousaram iniciativas. Prender o Cristo? E só o fizeram por incitação popular. Já na porta traseira do camburão Cristiano Clemente pareceu tomado novamente pelo espírito do personagem que lhe fugira. Sereno, olhou para céu, abriu os vastos braços e clamou com a sinceridade de um santo: “ta vendo, Pai, eles continuam não sabendo o que fazem!”.

Um comentário:

  1. Deu na "Folha de Nazaré": Cristiano Clemente anuncia a sua renúncia.
    Maravilhoso texto, amigo Alaor. Com certeza eles continuam sem saber o que fazem. Diferente do cronista que acerta sempre, presenteando quem gosta de uma boa leitura.
    Aproveito a ocasião para tomar a liberdade de te indicar um blog de "baianidade" que nos faz rir das nossas peculiaridades. www.vatomanaporra.com.br

    Abração.

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