sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Poder de fogo

Poder de fogo tinha a velinha que iluminava os búzios. Queimava por desdém. Aparentemente sem precisão ou sacrifício. Mas os olhos causadores de deuses de Estefânia, consulente, quase que brilhavam mais. Via-se neles um além-pupilas, depois da concentração cega em cada uma das conchas que Mãe Ivone lançava com mãos em transe: - Você não gosta de mar? Quer que eu te conte um sonho? Ainda pensa em se casar com aquele moreno? Sente dor nos braços quando começa a escurecer à tardinha?
Estefânia somava respostas; apreensões em números absolutos; dividia desejos; multiplicava intenções. Mãe Ivone mantinha a ciência da fé no cálculo ajustado das respostas. Não há bruxaria nos números que resista à disciplina dos santos em êxtase. Sem se surpreender, Mãe Ivone fixou imperativamente a moça: - Você precisa escrever pra ele agora. Pegue aí o lápis. Estefânia tremeu: - Nem sei o endereço, Mãe Ivo.... A velha bateu na peneira que sustentava os búzios, uma concha aberta e quinze fechadas desenharam-se no tabuleiro: Exu. A velha meneou a cabeça: - Nem adianta. Acabou sua hora!

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