quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Os sobejos da honra

Os sobejos da honra eram as obsessões de Ludmila. Com os pés mirrados de idas e vindas às farras e às missas, criava analogias insanas entre sua postura caótica e os desígnios das virgens nos altares, que com seus olhares retos de estátuas ouviam as lamentações dos pecadores que se ajoelhavam diante de si. Ludmila corrigia os bicos dos seios, como se desse prumo à virtude, para ouvir as falas dos homens que a sabiam fácil na retribuição aos desejos da carne. Com a probidade de uma juíza, sentenciava que sim, que sim, que sim, que acataria cada cantada, por mais reles que lhe parecesse. Puta na retidão dos propósitos, não imaginou a teia lógica do amor de Filadelfo. Chorou sem fim, sem lágrimas ou lamentações ambíguas, quando o rapaz desferiu-lhe o primeiro tapa. Resignou-se ao segundo. E, enfraquecida no terceiro, por fim expiou seu desejo mais íntimo. Fechou os olhos perpassados e deixou sair um grito incontido: “me chama de sua nega!”.

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