sábado, 6 de fevereiro de 2010

O eu-lírico

O eu-lírico era gay, um pouco acima do peso! Transitava os versos com perspicazes intenções, e vertia água, como se suasse um soneto eterno.
Tratava admirado aos homens, até por os bofes para fora, como se as palavras contivessem todo o sentido do esforço pós-sexo, todo o cansaço de um êxtase. Mulheres não tratava. Era convicto. Seria capaz de degolá-las, para curar-lhes de uma dor de ouvido. Não se utilizaria de um vocábulo sequer para contê-las no poema. Cabras expiatórias de versos mancos e rimas pobres.
Crescendo num silêncio fantástico, como aquele que faz crescer uma flor, utilizou chave-de-ouro quando deu-se, enfim, ao amor até então incorrespondido pelo herói imaginário. Feito louco, feito Lorca, gravou este último verso com uma construção extraordinariamente usual, como o pão nosso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário