quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Enquanto houver

Enquanto houver perdão não há pecado. Heitor cantou, como todos cantam Ataulfo Alves, com a nostalgia em riste. Mas era música do pai. Infância, passado de coisas. Arroz doce diante do Flash Gordon das duas da tarde. E a dificuldade de concentração contaminava a caligrafia. Então se lembrou da palavra “quimera”, porque sim. Difícil Arlete, que nem vira o astronauta descer na Lua, entender aquelas inutilidades grudadas umas às outras. Talvez devesse tentar um e-mail, um torpedo ou encher-lhe de abreviações no emeesseêne. Aí, sim, teorizaria Arlete na comunicação: emissor – mensagem - receptor.
“Se eu pudesse, e se meu dinheiro desse, eu te dava sem pensar essa terra, esse céu, esse mar”, Heitor pensou com o desespero voluptuoso dos comerciantes falidos de amor. Não, Arlete, bolinha de gude, não estava à venda. Seria preciso ganhá-la no jogo. E todo difuso, Heitor lembrou-se que sempre fora o último escolhido nas peladas do futebol da vila. Arlete haveria de viver sob sucessivos indultos. Melhor assim.

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