Os pormenores eram variáveis. Fósforo aceso, brasa viva e fio de fumaça salvadora, que saía da ponta do cigarro. Redenção. O copo grosso, trincado no canto, já não trazia o vermelho do tomate, mas néctar incolor da cachaça barata. Aclamação. Tantos homens, que jamais foi, eram esperados para daqui a pouco, ali ao lado. Deleuza orava na Igreja Avivada do Senhor Supremo, vizinha da casa onde moravam.
Deu de lhe proibir prazeres e trocar as farpas pelo “ó Senhor”. Desfez a chapinha, limpou a maquiagem, aumentou a saia e se esqueceu do sexo. Justo ela, uma ex-profissional.
Tinha que ser rápido. Chico virou a pinga, chupou a guimba e enfeitiçou a alma. O culto estava para terminar, porque a cantoria já alardeava “vou, mas volto, meu pastor, para ter com o meu Senhor”.
Não deu tempo. Deleuza saíra minutos antes que o pastor Argemiro proferisse o “vai com Deus, irmã”. Observou atônita a fumaça amassada, que saía escondida sob os pés de Chico. Olhou nos seus olhos vermelhos-tomates, que se afastavam refletidos no copo, olhou nos olhos vivos da arara, estampada na garrafa vazia. Baixou a cabeça, e provavelmente o diabo também baixou, e a fez sacar da velha gaveta o facão de degolar galinhas.
sexta-feira, 17 de abril de 2009
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