sábado, 11 de abril de 2009

Foi mal...


Foi mal, doutor. Vendi tanta coruja aí, no mercado negro, que trago comigo uma identidade vacilante. Tenho meio que um piado. Não dou o pé, mas observo as noites, cheio de atenção. Daí, né?, dei pra adivinhar mortes. Estremeço, arrepio. É tiro e queda. Ouço os galos cantando fora de hora. Apito besta de guarda, pra se mostrar noturno como eu. Vê se pode?
Não mexo com gato preto, mas essa de que matar coruja dá azar, inventei. Inventei mesmo, doutor. Tenho dó das bichinhas. Só vendia pra gringo com cara de gente boa, sabe? Neguinho que ama os animais. Tem uma corujinha, a caburé, conhece? Pois é, três peninhas dela trazem sorte no amor, nos negócios, na guerra, em tudo. Coruja é bicho limpo, doutor. Come os bichos ruins: aranhas, ratos, essas coisas. Então tem que gostar dela, mas aquele alemão, tinha cara de gato. Já viu, né? Gato e coruja, sacou? Nada a ver. Disse pro senhor da minha identidade vacilante, não disse? Então, é tiro e queda.

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