Displicente como raios de luz entre as folhas, Bento Vargas deixou cair sementes de um dos cinco gomos da carambola no trajeto de terra lodosa, que fazia de sua casa à roça. Chupava a fruta como quem comia estrelas, moldadas ao corte do canivete suíço, comprado a prestação no bar do Mané Picolo.
Do lodo do chão veio o torrão, após as chuvas de março e a seca fria de junho. Maria Clementina dançou com Chico Silva, no baile de Santo Antônio. Desfilou de braços dados com o verdureiro Jápa, na festa de São João. Mas o ódio se acirrou em Bento durante a quadrilha de São Pedro, quando juram tê-la visto beijando Orlando, ao primeiro grito de “olha a cobra”. É mentira, teriam retificado depois. Mas, tarde.
Ensandecido pelos muitos litros de quentão, Bento Vargas sumiu a esmo, estrada afora, falando coisas que pouca gente entendeu. Mudinhas minúsculas de pés de carambola permaneceram lá, às margens do caminho, pisoteados por suas dores cambaleantes. Sobreviveram, é verdade, e contam até que deram pra produzir outras estrelas.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
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