terça-feira, 14 de abril de 2009

Não tinha boca pra nada

Não tinha boca pra nada. Tão e tanto miúdo, que chegava a oprimir com sua piedade. Carregaria as compras da vizinha? Sim, senhora. Ajudaria Julião a lavar a calçada. Sempre às ordens. Recolheria os galhos da árvore cortada por Seo Pereira. Pois não, senhor. No lugar de um não, de uma indisposição ou límpida preguiça, a constante presteza.
Calculou um silêncio de vergonha para ingressar no cotidiano hostil de Edicleusa, a deusa, como pensava em seus segredos. Conhecia a inconstância do humor da moça. A família de hábitos noturnos. Pedir-lhe-ia a mão, apenas, mesmo que reservadamente lhe desejasse todo o tronco e membros do corpo.
Louvada seja ela, sem ninguém por perto. Naquela insegurança, tímida de passos, caminhou à porta da divindade. Atenderam-lhe três cavalheiros, todos os três, trinta e oitos na mão. O primeiro foi seu pai. O segundo, seu irmão. O terceiro, da quadrilha, foi quem lhe cobriu a visão...

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