quarta-feira, 29 de abril de 2009

Farto de prodígios

Farto de prodígios, mais de uma vez deixou claro que não queria reza em seu velório. Sirvam cachaça amarela, salsicha no vinagre e, se não for dar trabalho, até umas sardinhas fritas, empanadas, como aquelas do boteco do Seo Antônio.
Fazia do cardápio da morte sua ração de vida. Megalomaníaco, vangloriava-se de já ter bebido mais de cem alqueires de cana e comido um cardume, frito pelo português ou aberto nas latas de gomes da costa ou “da coqueiro”.
O tempo, senhor dos estômagos, logo tratou de estragá-lo. Na emergência do postinho de saúde da vila, entre cólicas lancinantes, desmaios pungentes e zonzeira aflitiva, balbuciou à Gertrudes, sua parceira sexagenária: “na dúvida, Gegê, junte àquela lista de coisas do cemitério uma ave-maria”...

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