sábado, 31 de julho de 2010

Sem peixes

Sem peixes nem água o aquário abrigava cartas de um período bom. “Era ele quem cuidava disso”. Na sala, o jornal do último dia de dois anos atrás, dobrado sobre a mesinha da luminária, ao lado da poltrona. “Ele tinha a mania de comentar notícias”. Havia um disco e poeira no aparelho de som. Tocaria sonatas, se espanado o pó e ligado à tomada. “Detestava música barulhenta”. O desnível no colchão de casal marcava a ausência de equilíbrio. Afundava tênue, num ponto entre a beirada e o parceiro ao lado. “Estava um pouco gordinho, e essas espumas não são lá essas coisas”. A roseira seca embaraçava suas raízes em pedregulhos esbranquiçados, sem vida ou consideração. “Eu nunca tive paciência para adubar e regar. Gostava do perfume”.

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