quarta-feira, 28 de julho de 2010

Teatralidade e entranhas

Teatralidade e entranhas devassas sobravam em Nair mais do que as próprias nádegas protuberantemente exageradas. Com postura de gata retesa antes do salto, ela espichava-se em poses que se alongavam juntas às suas palavras amaciadas. “Queeeemmmm? Eeeeuuuu?”, costumava abrir conversas, sempre que alguém (do sexo masculino, esclareça-se) se dirigia a ela. A inobservância dos homens menos talentosos sempre assegurava efeitos positivos àquela calhordia esbanjada. Derretiam-se por Nair, todos com a certeza que ela lhes sussurrava diretamente na libido. Mas Ernestão, mesmo com seu talento duvidoso, foi quem desconfiou daquele desperdício de afetividade. “Ssssimm, vooocêêêê!”, zombou de besta, quando tentou apenas perguntar as horas àquela felina sobrepesada. A máscara de Nair perdeu a fruição. Com a aspereza da lixa de unha que empunhava, mirou-a ao homem, e caprichou sem veleidade: “qual’é a tua ô pobreza?”.

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