terça-feira, 6 de julho de 2010

- Porco!

- Porco! – gritava a mulher sempre que Benoval tirava-lhe da mão as queijadinhas, brigadeiros ou beijinhos, para comê-los sozinho. Ambos eram arredondados, mas ele não sofria de diabetes, o pretexto era o ideal para romper com a divisão. Ela, bem nascida, a todo o momento em que houvesse visitas na casa gostava de frisar a diferença de berço em relação ao marido. Via de regra, ele seguia piamente as ordens da mulher, que insistia por exemplo, na compostura e erudição do marido. Composto e erudito nos assuntos da economia do casal, Benoval era do tipo tacanho. Ambos eram baixinhos, mas ele usava ternos sob medida, que quase lhe faziam parecer um homem sério. Furtava do sogro, usurpava as cunhadas (ambas muito belas na sua visão interesseira), trapaceava a sogra, com a condescendência parcial da esposa feia. Até que, já bem ricos, por herança ou perversão, decidiram “tirar os outros dos negócios”. O intento foi bem até que o cunhado mais velho descobriu-lhes a trama. – Porcos! – gritava o cunhado sempre que os avistava. Mas o casal seguia indiferente e milionário: ela, sem os doces; ele, empanturrado de queijadinhas.
(Paraty, 6 de julho de 2010)

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