segunda-feira, 12 de julho de 2010

Trotava lânguidas

Trotava lânguidas tosses quando baixou guarda à entrada de Haidê em sua vida. Passou a acariciar projetos, contemplar os pratos de sopa, comprazer-se com os xaropes lenitivos. Melhorou benzinho. Até foi à janela apreciar o céu curvo e turvo daquela tarde seca ilimitada.
Tratando-lhe da ausência do sentido às coisas, Haidê revigorou-lhe os pulmões e a fé. Do contrato é que ele não sabia. A fantasia quanto ao despojamento da moça, que chegava com as manhãs, pão fresquinho e café para alma, o fez supor que enfim alguém se afeiçoara a ele. Essa criatura doce, apresentada pela filha mais velha como amiga, o conhecera descomposto e mesmo assim o incorporou à sua vida. A inverossimilhança só tocou à porta quando quem bateu antes de entrar, naquela manhã de julho, foi a filha, não Haidê. “Ela queria aumento, papai”, disse-lhe seca a gênita desapegada. No começo daquela noite Tácito; era esse seu nome; morreu sozinho com uma tosse extemporânea.

Nenhum comentário:

Postar um comentário