domingo, 25 de julho de 2010

Ao passar da sexta

Ao passar da sexta para a sétima pêra as pupilas de Paulo pareciam dilatar. Focavam no verde-amarelado da fruta toda a dimensão da gula incontida. Esperavam uns segundos e a boca dava cabo à função, afoita e às partes. Paulo era traça em tecido, cachorro no osso, gato no peixe, galinha no milho. Sem distinção do doce ou salgado, tremia os beiços com traiçoeiros tiques nos períodos de desocupação da boca. Obeso mórbido colecionava apitos de perus, lacres de goiabadas e rótulos de presuntos. Contava com os pratos quentes ou embutidos frios, menos com a prescrição do médico, dada em tom de ultimato, para que parasse de comer gorduras. Paulo esbravejou com Deus, desanimado da vida. Mesmo assim, apanhou a oitava pêra do lapso da dieta: fruta pode.

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