sexta-feira, 2 de julho de 2010

Assistia às elipses

Assistia às elipses das mariposas ao redor da lâmpada, com olhos de quem vê uma imagem piedosa. Uma espreita da ausência de sentido, vista do nada, contemplação do apático. Perilo era assim aos sábados. Um quase infame. As madeixas escovadas da almofada de fuxico e pelos era sua instalação definitiva. Deitava em pasmo e dali não se levantava, ancorado pelo ócio. Nem livro, nem televisão, rádio ou distração habitual. Quando muito, pouca conversa. Alguém que por ali passasse era capaz provocar-lhe uma olhadela indiferente ou respostas evasivas, quase sempre marcadas por sim ou não. Quando tanto, pode ser.
Com a serenidade cúmplice de Heron, o vira-lata amarelo, Perilo movimentava os braços tímidos e perversos sobre as orelhas do bicho, que sentia carinho onde havia displicência. Tormento sentia só na madrugada do domingo, dia em que voltava à vida, sempre reclamando a todos que sofria de insônia.

Um comentário:

  1. eu tenho momentos "Perilo"...Geralmente, depois de um deses momentos sai um textinho pro blog
    rsrs

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