domingo, 11 de julho de 2010

Reduzido a garrafas

Reduzido a garrafas, Odenato tornara-se tão inconveniente quanto um violinista principiante ou criança em restaurante. Seus passos de elefante manco eram ouvidos e identificados assim que chegava, seja pelo desânimo com que batiam no solo, seja pelo atropelo que causavam ao cão Gogó, velho conhecido do bar. No fundo, Odenato parecia querer libertar-se desse invólucro terrestre, para chegar mais rápido ao seu céu particular. Pantagruélico e beberrão contumaz, tinha o rosto vermelho em flor, o que lhe assegurava algo de diabólico. O que poucos sabiam é que simultaneamente às suas próprias derrotas, Odenato tinha hábitos benemerentes, como visitar velhinhos no asilo, para distrair-lhes o tempo restante. A mais regular das visitas era para Seo Faetonte, um idoso inválido, cuja vida limitava-se à cama e ao quarto malcheiroso. Tanto supôs que o entretinha, que se indignou quando o doente, com amável indiferença, chamou-lhe perto, e cochichou ao seu ouvido: “por favor mate-me, prefiro chegar antes ao inferno do que aguardar sua próxima visita”.

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