sexta-feira, 23 de julho de 2010

Sobre a sopa

Sobre a sopa Saulo confidenciava com a namorada naquele restaurante barulhento. Uma cintilação sonora de pulseiras frouxas revelava a inquietude do lugar, mais para um bar do que para um ponto romântico de encontros, ainda que furtivos. Parece que diziam dos outros umas coisas de cochichos ou observações impertinentes dos gestos, das roupas, dos modos. Alheios, na recíproca conta, aquilo que deles também deveriam estar a dizer. O gordo Saulo e a pequena Lúcia não eram, de fato, casal à primeira vista. Insinuavam um equívoco ou interesses escusos. As bochechas aumentavam e diminuíam, mas as fofocas não cessavam; como o alimento engolido. Só se irritariam para valer quando o garçom, num gesto mecânico, apontou-lhes e riu, tendo como ouvinte o barman de bandana branca. Saulo ameaçou se levantar para satisfações, Lúcia intercedeu: “liga não, namorei ele quando era criança”.

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