sexta-feira, 30 de julho de 2010

Do pico

Do pico do monte não se vê o lodo que, aqui embaixo, deixa o rastro de quem passa por todo o chão da casa amarela. “Me limpe os pés”, ralha sem concordância dona Josefa, sempre que um pirralho tenta correr por sala adentro. “Estás a rir-te de quê?”, ela esbraveja, provavelmente porque nos seus idos interiores portugueses havia obediência onde houvesse criança. Na contrapartida carinhosa dos pratos a velha criada serve os caldos, verdes e fumegantes, para alimentar almas a colheradas sonoras. Gostos e lambuzares de vidas, passadas às barrigas cheias. Nenhum medo transtorna os sonos, nenhuma ânsia atropela a paz. De chegar lenta, com raios de sol dosados ao balanço dos galhos da figueira, a manhã se assenta e se firma novidadeira. O tempo na casa amarela vai começar de novo a passar, mas é ruim observá-lo aqui, do pico do monte.

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