quinta-feira, 22 de julho de 2010

O privilégio de ver

O privilégio de ver fantasmas Jaime só reconheceu como tal depois de confundi-los com as gentes desse mundo. Deu bons dias ou boas noites a muitos de outra esfera, sem que se desse conta da receptividade do além; todos muito correspondentemente gentis. Foi, portanto, por acaso, e súbito mal-estar, que descobriu o inefável: o ruivo de olhos verdes, baixo e meio manco que, conforme concluiu, havia se mudado há pouco para o apartamento vizinho, na verdade, morou naquele mesmo endereço, antes de morrer de cirrose há três anos. O inocente porteiro apenas revelou a história porque o próprio Jaime foi quem lhe comentou a simpatia do vizinho. Aliás, quantos vizinhos! Porque também foi naquela conversa que Jaime ficou sabendo que, havia dois anos, somente ele morava no prédio.

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