sexta-feira, 9 de julho de 2010

Ria daquele jeito

Ria daquele jeito! Quase vibrante, com a tez de violências reprimidas. Empurrou-me sem muita cerimônia e apanhou meu pão, recheado com finas fatias de mortadela, conforme havia pedido ao atendente do bar. Aqueles que estavam do lado, inclusive o balconista, viram a deselegância. Em meu acanhadíssimo modo de ser disse que se enganara, que o pedido era o meu, que eu ditara a preferência pelas fatias delgadas, que até o limão cortado ao meio havia solicitado. Ele não se perturbava, impassível como o velho balcão. Mordia com gula e enlevo exagerados bocados de minha fome. Afastei-me, por consciência e comparação entre o meu tamanho e o dele, e pedi um sanduíche idêntico ao “do homem”. A distância entre o rapaz que o trazia e a minha, em relação ao usurpador do alimento alheio era a mesma. Notei que o tal engolia o último naco e levantou-se, já de olho no meu novo rango. Minha superação foi olímpica. Com três passos rasos fiquei a um metro do garçom, lonjura idêntica a do homem deselegante. Mas minha destreza de infância foi decisiva. Acertei na mosca, bem no meio do sanduíche. Como nos velhos tempos de campeão de cuspe à distância.

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