sábado, 10 de julho de 2010

Banalidade

Banalidade. Ao bem da verdade Heitor não era cético, apenas não levava a sério que a água do mundo poderia acabar. Arredondava-se com o ré maior no chuveiro, torturava o cão atento com os pingos contínuos da torneira da pia, encharcava, enfim, o pé de cacto da varanda, que nem de água gostava tanto assim. Nas discussões com seu próprio cérebro chegava blasfemar contra os rios e o mar, pela incompetência que demonstravam ao deixarem o povo questionar as suas permanências eternas como provedores. A água era tema recorrente de Heitor, porque sempre lhe assegurava bons minutos de polêmica, o que é essencial para quem, como ele, adorava freqüentar os bares. Sua argumentação ganhou a força de um tsunami quando as águas invadiram boa parte dos litorais do mundo. Orgulhoso, Heitor impostou a voz, quando se encontrou com os rivais de opinião: “Acabar? A água vai tomar a gente!”.

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