quinta-feira, 8 de julho de 2010

A amabilidade acendeu

A amabilidade acendeu as feições Liamara. Foi o que viu de mais evidente nas maneiras de Irene, depois daquela situação traumática. O marido recém saído da maca do carro de resgate, rumo ao centro cirúrgico, oculta e quase inconscientemente já lhe provocara uma certa premunição. Irene envolveu-a de consolos pertinentes. Que a equipe médica era a mais qualificada para aquele tipo de situação. Que já presenciara inúmeros casos idênticos, incapazes até de deixarem seqüelas. Que Tadeu era forte como um touro, macho mesmo, homem que se dobra às pequenas incidências. Que a pancada não chegara a atingir sequer a tatuagem do cavalo que Tadeu tinha na virilha. O conforto de Liamara começou a virar incômodo. O lenitivo, um enfado. Como Irene, aquela enfermeira desconhecida, sabia da tatuagem de Tadeu, se o marido entrara vestido na maca do hospital? Mas a paz só se transformou definitivamente em ira quando Irene tocou-lhe a mão no ombro: “aqui entre nós, eim Liamara, Tadeu é um homem que vale por dois!”.
(Monte Verde, 8 de julho de 2010)

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