domingo, 24 de janeiro de 2010

Quem dormia

Quem dormia ao lado não era apenas uma mulher estranha, mas um hábito, tantas eram as estranhas. Honorinho acordou com um zumbido que saía sabe-se lá de qual orifício. E de quem? Tinha similaridade ao sopro, que quase sempre cometia no esgar do gozo. Expectante, correu os olhos sobre o corpo daquela. Aquela quem? Não lhe ocorrera o nome. Mas não era. O zumbido vinha de si próprio. Imaginação do ouvido? Quem sabe? Deduziu sem saber nada da coisa que não passava. Tanto se mexeu que agitou a moça, nua de preguiça. Enormes olhos castanhos se abriram inchados: - Que foi, benzinho? Tá sonhando comigo? Honorinho se desconcertou com aquela fala em duo ao zumbido. Coçou a cabeça para articular uma resposta sonolenta, que não passou de um quer uma maçã? A dona disse não, dorme. Mas como dormir com aquilo? Ele concluiu, e levantou-se trôpego. Vazavam asas de seus pensamentos, quando optou pela ducha. Água despertadora, aquele frio abusivo, aquele novo estado gratuidade úmida lhe tiraram de estalo da inércia. Era um hábito, nem tão anormal, como de colecionar mulheres, mas o zumbido só cessou na noite seguinte, quando apresentou o quarto à Beatriz, sim, essa se chamava Beatriz: muito prazer!

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