sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Era uma poça

Era uma poça de palavrões, cuja saliva transbordava em cada frase. Aos trancos e afetos tratava dos outros e de seus cachorros, respectivamente. Morador isolado de prédio quase vazio, onde até a sombra era sólida, pouca conta Hermilitão dava aos insetos rápidos, às baratas breves ou sugestivos peçonhentos, seu mal era a gente.
Com ossos e acerolas grudados aos bolsos da calça, tratava os totós a pão-de-ló, que dele se encantavam pelos gestos toscos, carinhos nos pelos e banalidades no tom dos assobios.
Quando adoeceu cheio de dedos destilou alegria ao ver os cães aflitos. Ao ouvir os latidos chamativos na porta do hospital e a inquietação dos médicos e enfermeiras com aquela trupe canina que tomou conta da área. Acidente benigno, riu, pensando no transtorno que seus amigos causavam aos inimigos. Morreria em Marte ou no Éden, mas não haveria filho da puta nenhum capaz de silenciar a fidelidade canina.

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