quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Logo tiraram

Logo tiraram cuidadosamente o espinho de ora pro nobis do mindinho de Zécarlito. Não era tão expressivo quanto as caretas do menino endiabrado, que nem vestia sapato pra não ter que engraxá-lo. As travessuras justas cabiam todas nos seus gestos. Pedras nos gatos, arapuca pra curiós, arremedo do padre, estilingada no pardal e zombaria da dona Rosa, benzedeira. Um moleque, enfim, do suco gástrico à cabeleira desleixada.
Mas aquela extração do superficial da pele aprofundara-lhe, como se mágica, o enlevo do espírito. Zécarlito virou outro. Tomou susto e juízo. Deu pra rezar se visse santo, poupar passarinhos da mira, ajoelhar pra dona Rosa e até benção de padre passou a agarrar. Tias, pais e lesados pelas suas artes passaram a falar em conversão, redenção ou milagre mesmo. Coisas da ora pro nobis, que estariam por trás da simples função de temperar o frango caipira. Cercaram a touça da planta e deram pra rezar perto das folhas, mas sem tocar nos espinhos. Nem mais bola deram pra Zécarlinhos, que com outros nove dedos ilesos de espinhos, além do mindinho sarado, voltou à molecagem. Só contaram depois que, se dona Rosa não lhe tivesse furado com espinhos de ora pro nobis todos os dez dedinhos, jamais teria ido para o seminário, estudar pra virar padre!

Um comentário:

  1. Preciso de uns espinhos desses pra usar em algumas pessoas... srrs (tá, talvez alfinetar um de meus próprios dedos, mas q isso morra aqui... srrs)

    ResponderExcluir