segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Coragem e ignorância

Coragem e ignorância andam bem juntinhas. Quando Dario propôs a Ernesto entrarem no cemitério às duas da manhã, para saber quem mereceria o amor Italvina, estava explícita a mórbida insensatez. Munido de um facão velho e um litro de conhaque, Dario entrou primeiro, espantando os temores às talagadas. Deu a volta completa e convocou Ernesto. O mulato arregalou os olhos. Aquelas manchas negras no rosto do rival não poderiam ser coisas desse mundo. O trato era não abrirem a boca durante a disputa, e ele foi. Pisou de mansinho do portão pra dentro e deu sete passos. Voltou correndo, apavorado, pois disse ter visto uma alma penada torcendo para que perdesse Italvina, a duras penas. Dario riu. Deu com mão na nuca do adversário e sapecou-lhe de ironias. Já não tinha as manchas no rosto, para a surpresa do amigo, e quando viu que Ernesto o observava por isso, foi logo explicando que o amor de Italvina não lhe seria tão ardente, se não lhe alimentasse as chamas um pedaço de carvão no bolso.

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