quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Petulantemente fino

Petulantemente fino, Odécio achou que tinha algum tipo de doença. Fez todos os exames com sufixo “grama”, consultou Mãe Tianinha, todos os esoterismos terminados em “logia”, runas, anjos e búzios. Nada! O diabo do perturbado era a saúde em pessoa. Só padecia, mesmo de tédio, disse-lhe o psiquiatra, último profissional consultado na sua escala doentia.
Diagnosticado, enfim, procurou dar sentido à vida de proprietário. Sim, essa era sua profissão. Herdara mais de cinqüenta imóveis do finado pai, ex-deputado, e a cada seis ou doze meses sofria a obrigação de ter que assinar um contrato de locação, que lhe era encaminhado diretamente pelo dono da imobiliária, responsável pela captação e depósito em conta de toda a sua renda. Estacionou o carrão no restaurante francês onde frequentemente jantava, e comunicou ao maître que passaria a ser garçom. Imediatamente atendido, vestiu a camisa linho branco, gravata borboleta e calça de cetim preto. Foi perfeito, até a terceira mesa. Anotar um pedido entediara-lhe ainda mais profundamente. Sentou-se com o freguês surpreso, puxou assunto banal, mas logo deixou claro: - faço questão de pagar a conta!

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