domingo, 10 de janeiro de 2010

Aflição beethoveniana

Aflição beethoveniana era o que Magalena nutria pelo sorriso. Sempre nervoso, repuxava o lábio inferior para frente, como se a boca tivesse uma sacada. Abafado na garganta, tinha o eco internetês dos kkkkkk, que os interlocutores colocam quando querem que o leitor sorria também. De Magalena acabavam rindo mesmo ou a odiando de vez. Aquilo lá era jeito de se rir?
Confidentemente, contava entre os dentes que rir foi pecado em sua casa de infância, onde a comparavam às hienas, porque Deus era sério no seu vasto semblante. Por conta da repressão, se traumatizara nos troncos e membros, gestos e bocas. Meio assim, meio assaz, Magalena cresceu crente. Dúvida e ceticismo era coisa de bem humorados.
Foi Junião, misto de lobo mau e espelho mágico, quem lhe abriu as portas do paraíso. Ao final de uma piada infame, deu de tapa nas costas da coitada. Como se um aperto histórico lhe tivesse sido lançado do esôfago à boca, a pobre destravou. E gargalhou de fazer pena.

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