segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Chuva minuciosa

Chuva minuciosa. Ultraje aos óculos vencidos por distorções cinza-alvejadas. Delírio dos cristais confusos. Seria de homem aquele vulto? Álvaro não via se tirasse as lentes. Não via se com elas permanecesse. Chuva insidiosa. Enegrecidas formas se formam a cada pingo. Um grupo de gente em sua direção? Há falas e palavrões. Talvez, sim, pessoas. Seria um assalto molhado? Uma agressão deslavada? Álvaro vê a proximidade de gestos ligeiros. Vê fora os óculos turvos: lama e chão. Já não sabe se o que se passa são rios, mares ou águas paradas. Há muita chuva, já fantasiosa. Dores de dentro caem nas poças. Há socos entre aparente garoa. Chutes de barros pegajosos. Um gosto de calçada embebida...
Não fosse o trovão de fato, Álvaro veria seu fim. Mas estremeceu sonolento pela violência daquele sonho. Chovia manso, trovejava isoladamente.

2 comentários:

  1. Meu caro e onírico Alaor.

    Como sempre ligado em suas MCC. Gostei muito do "gosto de calçada embebida".
    Aproveito para desejar, em retorno, um ano novo com muitas alegrias para você e sua família.
    Abraço.

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  2. Alaor,

    Esse comentário ai de cima é meu. Estava logado em outra conta.

    Abraço.

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