domingo, 17 de janeiro de 2010

Asa de borboleta

Asa de borboleta. O aéreo apelido de Lara parecia extraído de um casulo de maldades, só porque ela escamava a pele manchada de vermelho, com tons verde-bilhar. Um abismo de falsidade separava as falas dos seus. Na sua presença, era Laurinha, Laura bela, lindinha. Longe é que à alavam, com as tais asas... de borboleta.
Voaria vida afora, desatenta pela ignorância do apelido, não fosse Glaucinha, a sobrinha inevitável que vivia rodeando a casa, em busca dos doces que a tia fazia tão bem. Saúva-mirim. Nesse rodeio açucarado, destruía bibelôs e brincos, emporcalhava tapetes e talheres, e falava, como falava! Lara bem que estranhou quando Glaucinha pediu melosa: - Tia Asa me dá outro brigadeiro? Asa? Lara estranhou enrubecida, esverdeada e pensativa. Do quê você me chamou, Glaucinha? Tia Asa, Tia Asa, Asa de borboleta, uai! A retrospectiva mental dos parentes fez Lara voltar à crisálida. Então é isso! Concluiu como não queria. Esticou as antenas lepidópteras, empastou-se com os corriqueiros hidratantes, voou segura e para sempre. Não faria mais a doce corte aos bufões amargos.

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